Pensar, um ato de coragem
Chegamos.
2015 está aí. Agora é recomeçar. Melhor, continuar, pois ‘o tempo não para’, já
cantava Cazuza. E o futuro? ‘O futuro é um espelho quebrado’, como é no mote
visual do seriado Black Mirror (Espelho Negro) – indico! E eu lendo. E eu
assistindo. E eu ouvindo. E eu escrevendo. Sempre! Maldita (ou bendita) sina!
Ao tempo em que navego por estas águas às vezes inóspitas do mundo virtual,
leio uma entrevista muito interessante com o filósofo italiano e contemporâneo
Georgio Agamben, cujo título é ‘O
pensamento como coragem’. Título, no mínimo instigante. Pensar no
contemporâneo é ter coragem? ‘Pensar por si só e sem negar as referências ou
inspirações’. ‘Quem pensa por si só é livre’, já diria um grande pensador. Mas
o que é pensar por si só? Talvez seja, justamente, pensar admitindo e/ou, no
mínimo, não negando as referências. De onde vêm meus pensamentos? Das coisas do
mundo, percepções e leituras. Das experiências do eu com o outro e com o meio,
eu diria. Num mundo onde a tecnologia faz parte significativa do serviço
humano, diluindo às vezes o raciocínio e acovardando o pensamento, pensar
torna-se um ato de coragem, ainda mais se acrescentarmos o ‘por si só’ neste
ato. Quando meus alunos de filosofia perguntam: ‘Professor, o que é filosofia?’,
respondo resumidamente que ‘Filosofia é o exercício ou a prática do pensamento’
(uma concepção que desenvolvi com os alunos a partir das referências e
discussões). Os anos passam, os calendários envelhecem, assim como as paredes
onde eles são pendurados, as roupas, as casas, as pessoas, os pátios, os
pensamentos. Mas alguns pensamentos nunca envelhecem. Outros, facilmente, e até
morrem. Agamben atirou bem. Para pensar, é preciso coragem. Para viver, também.
‘Penso, logo vivo’. Existir é bem mais fácil e independe da coragem (viu
Descartes?!). Eu vivo, eu penso, eu resisto, entre natureza e cultura, sem
negar uma ou outra, sem submeter uma à outra. Entre razão, instinto e intuição,
se vive no caminho daquilo que o pensamento oriental muito valoriza e chama de ‘equilíbrio’.
Referente a isso, novamente Nietzsche vem e nos diz: ‘O homem é uma corda esticada entre o animal e o
super-homem: uma corda por cima do abismo’. Outro mestre do pensamento moderno,
o físico Albert Einstein, por sua vez disse: ‘Viver
é como andar de bicicleta. É preciso estar em
constante movimento para
manter o equilíbrio’. Ambos, Nietzsche e Einstein, estão entre os
grandes e corajosos pensadores ‘atemporais’, pois suas palavras, seus
pensamentos, ultrapassam períodos, contextos, escolas e ideologias. Eis duas
das boas referências a que me refeira anteriormente. Dois encorajadores do
pensamento. E é nisso, nesta coragem que reside todo o pensamento vigoroso que
sugere mais vida, para além da mera existência das coisas utilitárias.
Melhores (ou piores) do ano
(novo)...
"Humorista
2015! Kátia Abreu, nova ministra da Agricultura: ‘Foram os índios que saíram da
floresta e passaram a descer nas áreas de produção'.” (Juremir Machado)
Mais
uma pérola da dita cuja: 'Não existe
latifúndio no Brasil'. Só pode que a nova ministra da agricultura mora em Cuba.
* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.
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