quarta-feira, 1 de junho de 2011

Histórias do Velho Oeste, parte IX: A lei do cão!

Apontei direto pra cabeça do sujeito. Ele vacilou, mas eu não. Engatilhei lentamente o trabuco e puxei o gatilho. Plantei uma azeitona entre os olhos do caboclo e aquele olhar de cão raivoso se desfez no ato. A menina estava livre do seu tirano. “Justiça seja feita!”, murmurou perplexo o padre, fazendo o sinal da cruz. “O que foi?”, perguntei sem hesitar. “Na, na, na, nada meu filho! Eu, eu, eu só...”. “Tudo bem seu padre, eu respeito à autoridade que Deus lhe deu, fique tranqüilo” – mas não fosse isso... “O, o, obrigado meu filho!”. “Não me agradeça seu padre. Apenas livrei a menina desse maldito filho da puta”. Deixei o defunto pronto e no lugar apropriado para a velação. A menina abriu um sorriso típico de uma criança da sua idade, porém, com um ar de satisfação e depravação. Anos sofrendo abuso do padrasto, só poderia reagir dessa forma. Mas meu motivo inicial não foi esse. O desgraçado havia matado um amigo meu há alguns meses, jogando seu corpo no rio Uruguai a mando de algum coronel, depois de ter espancado e tentado abusar da mulher que há tempos eu cevava. Ela ficou bem feia, coitada! Bateu até que pôde o perverso. Ela não era flor que se cheire, mas era mulher. E das belas! Eu gostava da Ana. Depois da sua surra e da morte do Ramiro, seu irmão e meu amigo, Ana juntou suas trouxas e se mandou do Velho Oeste. Foi pra capital atrás de uma vida melhor, mais digna. Queria estudar e ser alguém na vida, longe dessa terra sem lei. Por aqui os coronéis deitam e rolam, fazem o que querem com as pessoas, menos com um homem como eu. Pensam duas vezes em comprar briga com gente da minha laia. No fundo, sabem que estamos dispostos a qualquer coisa para não sucumbirmos no tempo. Já se provalecem demais com os índios e caboclos, expulsando-os das suas terras enquanto seus capangas abusam das suas crianças, como este, que agora já deve estar esperando na fila do inferno. Não sou justiceiro nem nada, mas antes ele do que eu! É a lei do cão. Mas é assim. Tenho que dançar conforme a música, e às vezes, ela não é tão agradável como deveria ser. A menina ri pra mim com devoção. Devolvo meu trabuco pra cintura, faço o sinal da cruz e saio lentamente da igreja sobre o olhar ainda perplexo do padre.


Nenhum comentário: