terça-feira, 6 de setembro de 2011

7 de setembro...




















Você é independente?

Pátria amada, armada, idolatrada, salve-salve! Quando alguém me enche muito o saco, a ponto dos argumentos não servirem mais pra nada, mando que vá para a ‘pátria que o pariu!’. Nasci aqui e aqui me criei, neste solo sagrado, sangrado, rico e de muitos miseráveis. Às vezes chego a não entender o motivo pelo qual muitos parecem se preocupar mais com a pobreza cubana do que com a miséria brasileira. Não vêem que aqui as desigualdades são gritantes? Ou fazem de conta que não vêem só para jogar cisco no olho alheio? Mas hoje é dia de cantar o hino, dia de respeitar a bandeira e bater continência aos símbolos sagrados dessa pátria. Mas que pátria é essa? O que e quem é o brasileiro? Quando se fala em Brasil, em nação brasileira, penso nos povos indígenas, nos caboclos, nos negros descendentes de escravos, nas crianças. Sobra um espaçozinho também para os euro- descendentes e outras etnias. A natureza, o solo, as culturas. Esse misto alegre que se chama nação. Mas também me bate certa tristeza, pois aí lembro de aspectos deploráveis de nossa História, e como ‘historiador’, sinto e vejo o quanto ainda precisamos mudar, avançar, desconstruir conceitos, crenças, valores, morais. Atitudes e sentimentos e razões hipócritas. Dentro de todo esse contexto, sempre me senti um pouco deslocado, e nunca tive tanta certeza se amo ou não esse país. Posso amar este chão e a diversidade que existe em cima dele, mas nunca um Estado ou ordem ou instituição emblemática e militarizada que se diz pátria. Não dessa forma que está dada! Acredito sim, em possibilidades de transformação, em mudanças. Pra onde não sei, mas sei que necessito disso. A terra necessita! Esse país necessita, para que ele mesmo seja nação. Carregamos na ‘nossa’ bandeira uma frase positivista. ‘Ordem!’. Que ordem? Pra quem? ‘Progresso!’. Que progresso? Pra quem? Sigo marchando errado, com meu passo trocado enquanto eu ver alguém pedindo um trocado. Sigo afirmando o caos meu de cada dia, minha falta de sossego, meu culto pela diversidade e diversão de manifestar, minha dor, minha ira, minha alegria, minha diária construção. Estar satisfeito completamente, acomodado, conformado com tudo, é legado dos covardes ou daqueles que ainda não se emanciparam pro mundo. Nascido num tempo de ditadura militar, eu ainda canto, eu ainda luto, pois sou filho deste solo que ‘és mãe gentil - pátria armada que me pariu!’.

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Pátria que me pariu!

“Uma coisa é um país, outra um ajuntamento. Uma coisa é um país, outra um regimento. Uma coisa é um país, outra o confinamento/ Mas já soube datas, guerras, estátuas/ Usei caderno “Avante” - e desfilei de tênis para o ditador. Vinha de um “berço esplêndido” para um “futuro radioso”/ e éramos maiores em tudo - discursando rios e pretensão. Uma coisa é um país, outra um fingimento. Uma coisa é um país, outra um monumento. Uma coisa é um país, outra o aviltamento. (...)”

Esse é um trecho de um poema de Affonso Romano de Sant’Anna  que veio a calhar nesse momento de ufanismo patriótico. Cresci, até a minha primeira adolescência, dentro de um CTG que conservava (e talvez ainda conserve), valores patrióticos, situando melhor, gaúchos. Alguns poucos reais sentimentos e muito discurso. Também já desfilei num dia 7 de setembro. E no único registro que tenho disso em foto, pra variar, estou marchando com o passo trocado. Mas não foi intencional, eu era (e ainda sou) atrapalhado mesmo (naquele tempo eu não era um ser tão inquieto como sou hoje). Desde criança somos incentivados, quando não induzidos ou mesmo obrigados a cantar o hino brasileiro, mesmo que ele não signifique muito pra nós, mesmo que não entendamos direito sua letra romantizada de linguagem clássica (o que tem pouco ou nada haver com nossa realidade cotidiana). Para que se haja respeito a alguma coisa, algum símbolo é necessário que se compreenda e se sinta parte dele, caso contrário, a ‘lealdade’ e devoção a ele se torna uma hipocrisia. Depois de algum tempo tentando entender isso, tive acesso a outras leituras, outras versões da História. Ainda muito jovem, li um livro que se chama ‘Triste fim de Policarpo Quaresma’, do escritor carioca Lima Barreto. Esse livro me ascendeu pra compreender melhor meu caso nada passivo com a pátria. Aos poucos fui tendo contato com pensamentos mais universais, críticos as fronteiras e ao positivismo republicano que cunhou muito do que conhecemos do nacionalismo. Através de um discurso patriótico, nacionalista, se usurparam culturas e possibilidades de outros modos de convivência social. Muito se impôs ideologicamente e militarmente. E assim se construíram idéias e ideais patrióticos, na maioria dos casos, forjados. O Brasil cresceu, mas a exploração da população menos favorecida continua e eu não bato continência pra isso. Portanto, o 7 de setembro pra mim, vai além da data comemorativa dessa nossa ‘independência negociada’...


Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bons!