quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Olhe para frente... Eis o deserto!

Nossas bocas secas, nossos olhos tristes, nosso horizonte sem perspectiva. Caminhamos como nunca. Nossos pés queimados, nossos cabelos de areia, nossa vida inundada de distâncias. Um oásis no meio do nada. Miragem no deserto oceânico dos nossos sonhos. Surreal. O mundo é surreal nesse deserto sem fim. Chegamos do outro lado e do outro lado tinha mais deserto. Tinha mais distância. Tinha mais nada. Um grande vazio. Um infinito constante de coisas invisíveis. Você delirou e gritou e se contorceu e quis morrer. Mas não havia morte naquele deserto. Nossos passos foram cobertos pela areia. O vento, o sol, o calor, o fogo que queima nossa existência, nesse deserto de imagens projetadas no lado de dentro da nossa cabeça e sem imagem alguma – lá fora, só a imensidão e mais nada. Somos frutos desse tempo meu bem! Somos o amargo da boca ressecada por falta de água e por falta de palavras líquidas. O vento vem e nos esbofeteia a face. O assobio do vento é nossa única canção. A preparação dos nossos espíritos para a próxima tempestade de areia que se anuncia – e vem. E quando vem, não deixa vestígios. Só o deserto existe. O mais é delírio, ficção. E saber que tínhamos uma vida longe desse deserto. Depois que tudo virou pó, você chorou. Caminhamos até o infinito pra chegar aqui, nesse deserto interior. Enquanto eu caminhava, dois passos à sua frente, você pensava na minha direção. Mal sabia pra onde eu ia. Mas não importava. Qualquer lugar acabaria aqui mesmo, neste mesmo lugar. Então você parou. Gritou pelo meu nome com fúria, bem no meio do começo do deserto sem fim. O grito nem se quer ecoou. Voltei-me a você. Numa corrida desesperada e cheia de ódio, você pulou sobre mim. Agarrou-me. Usou unhas e dentes pra me partir. Meu sangue escorria entre seus dedos. E você continuava. Dava-me sua dor da forma mais banal e corriqueira, tirando meu sangue. E eu ali, imóvel, olhando pra lugar nenhum. Meu corpo retalhado. Mas mesmo assim, eu lhe dei um sorriso. Você não suportou. Caiu de joelhos na areia desse deserto vivo que lhe esfolou a pele. Gemeu. Sentiu dor. Mais do que eu. E o ódio saiu do seu corpo pelos olhos. Eu vi. Então você chorou e sorriu. Pôs-se em pé. Em silêncio pegou minha mão, delicadamente. Apertou. Voltamo-nos para o horizonte e continuamos nossa caminhada... Andamos até hoje, certos de que um dia, haveremos de chegar.


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