sexta-feira, 24 de maio de 2013

Janelas para a noite (& o prazer na solidão)...






















'Silêncio' - Odilon Redon (1900)


Enquanto lá fora o vento sopra e bate na janela do meu quarto escuro, eu em meu devaneio noturno prossigo buscando distâncias. Imagens me surgem e em todas elas eu estou só. A solidão às vezes é a companheira mais fiel. Ela não ludibria, não dissimula, não entorta, não agride, apenas silencia e é. E eu abraço a solidão como quem abraça a si mesmo em frente ao espelho – com toda a força e esperança contidas no ato. E o vento lá fora, teimoso, continua a bater na janela do meu quarto escuro. Daqui um pouco o galo canta e algo se move lentamente por detrás da montanha sobre a relva umedecida. A solidão vai embora sempre que alguém bate a minha porta e eu me certifico de que o mundo ainda não está vazio. No meu peito sobe uma ânsia que vem por causa de um dia cheio de compromissos que não me dizem nada, mas que sei, é preciso cumpri-los por uma determinação exterior a minha vontade. É o dia útil que chega e se apodera da necessidade, tornando-a escrava dos seus mandos e desmandos, a seu bel-prazer – o meu, volta com a noite, quando em meu quarto escuro ouço o vento soprando e batendo na janela. Minha solidão tem janelas para a noite...


* também publicado no jornal Folha do Bairro, em 24/05



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