A difícil tarefa
de ser Vip...
Já não bastasse eu ser um escritor e professor pop, agora também sou isso vip. Só ainda não cheguei ao grau de backstage – mas acredito que não vá
demorar muito pra isso. Contudo, em certo grau, morar em Xapecó e estar na
Efapi, apesar dos elevados valores cobrados em quase tudo no parque (viu, não é
só no nome que a feira é ‘grande’!), da segmentação ou segregação dada por essa
moda vip, é ser também vip. Somos ou não somos a capital do oeste, velho
oeste?! (olha o ufanismo aí!), então?! Além de eu ser um xapecoense vip, para
onde eu olho vejo tudo se ‘viprivatizando’: o estacionamento é vip, a frente
cercada e segmentadora da concha acústica é vip, as garotas famosas e peitudas
do backstage são vips, você pousando para foto com elas ou eles também é vip, o
finado pé de bocha é vip, o mundo é vip, tudo é vip. O ‘ser vip’ está por tudo
e na cabeça dos que querem ser vip. Vip não é apenas uma condição econômica, é
um estado de espírito, uma filosofia, uma religião, uma ideologia. Ser vip é
ter seu espaço garantido. Até no cemitério temos buracos (jazigos) vips. Então,
seja vip você também, aderindo ao ‘viprismo’ contemporâneo! Certamente, o
jornalismo do Gazeta não ganhou credencial para a feira, pois não é vip. Nisso,
nossa demo-cracia é vip. Só que nela, detalhe, a modo de Orwell e sua ‘A
revolução dos bichos’, “uns são mais vips que os outros”...
Pro bico dos
tucanos...
Um leitor meu aparece em minha frente na feira me indagando: "Ei Herman! existe coisa mais segregadora do que esse tal de backstage? onde quem paga mais adquire o direito de ficar num lugar privilegiado junto ao palco dos grandes shows e a festa privê? Capitalismo 'separatista' declarado e com comprovante dado pelo poder público! Tu que é historiador, não parece segregação racial? Não lembra as festas e bacanais do Império Romano em torno do poder?" Eu, que nem havia dado atenção a isso (e nem precisou meu certo olhar sociológico), me dou conta quando vejo as informações e as imagens publicitárias. Continuando, o leitor dispara: "E o que você acha, será que rola alguma folia com aquelas garotas peitudas no backstage ou com aqueles bombadinhos famosos? ou é só firula pra sair em fotografia e se gabar de poder estar nesse lugar?" E ele então finaliza: “Não é pro bico do povo, esses pardaizinhos! É pro bico dos tucanos!".
*
“As crianças que eu amo tanto, me
inspiram uma esperança fadada ao pulso sorridente da vida – o combustível da
minha mobilidade. Eis a fonte, entre outras, da minha vontade de potência
(leia-se Nietzsche). O sorriso de uma criança tem mais força em mim do que aquilo
que eu desprezo - e assim sigo adiante. Obrigado crianças!”
* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó, 10/10
Um comentário:
Gostei mto do texto Herman! Parabéns!
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