sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Crônicas: Leituras do Cotidiano, 31/01...















Os Black Blocs e a Copa: uma relação de amor culposa...

A copa vai acontecer. Bem ou mal. Gostem ou não. Acontece que a copa não é uma decisão simples. É uma decisão impositiva-imperativa. ‘Como assim Herman?’. Uma decisão impositiva-imperativa é quando alguém decide sob pressão ou orientação de outrem e com políticas piramidais. Quer dizer, não sei se é bem isso, mas parece. O povo escolheu assim? É claro... que não! Mas isso não é uma democracia? É claro... que não! Aliás, até é. Democracia liberal: Conceito de ‘liberdade’, escolha o seu! (com tom publicitário): ‘Liberdade a la grega idealista’ ou ‘a la francesa liberal burguesa’? ‘Baratinha, a preço de atacado!’ Liberdade nativa-tribal-indígena, não interessa. Nosso mundo, nossos valores, hábitos, crenças, argumentos e cultura, foram construídos acima de um ‘eurocentrismo norte americanizado’. Como assim? Ah, outra hora eu explico. De um lado a ‘direita’. Do outro a ‘esquerda’, ambas ‘oficiais’ e ‘institucionais’. Ano eleitoral. Uma ataca, outra defende, como num jogo de futebol (até nisso ele influi!). No meio, as outras esquerdas e as outras direitas. Os anarquistas, os Black Blocs, os Anonymous (outros, apenas rotulados disso), e mascarados afins, os grandes ‘culpados’ – ‘Baderneiros! Marginais! Pau neles!’. Estudantes, movimentos sociais, sindicatos (alguns, também com suas máscaras, só que de cara limpa – se é que me entendem?). Todos no meio. Quer dizer, nem todos! Ah, vocês me entenderam! PMDB (e o sujeito vem e diz: ‘Eu sou do MDB!’ – Putaqueopariu! Se meu velho avô ouve isso, dá merda! Da grossa!) no macio, deitando e rolando, rindo da situação mas deleitando-se sobre ela. PSDB, tentando, tentando! PSD, novo aliado – para a dor de cabeça de alguns e o alívio de outros. E o PT? Bem, o PT... PSTU e PSol, um pouco pra cá, um pouco pra lá. PCdoB... PC do quê? Onde? E o PT... Putz, eu me implodiria se tudo isso não fosse um ‘espetáculo’. Pior é que, poucos sabem ou ouviram falar do ‘espetáculo’, e muitos dos que sabem e/ou ouviram sobre ele, preferem permanecer em lugar ‘seguro’, ou que, pelo menos transmita uma sensação de segurança (segundo a teria do Caos, ela não existe). A segurança é uma puta que se vende fácil. Não quer compromisso com a realidade. Tá certo ela, tem mesmo é que transitar, é livre e não depende de conceitos. O dualismo é terrível. Bem e mal no fim, se encontram para um abraço fraternal. É preciso estar além. Mas é difícil, eu sei. Impossível? Não! Copa ou não copa, culpa do que e de quem. Entre o governismo ‘esquerdista’ e ‘anti-histórico’ de Emires Saderes e o libertarianismo ‘direitista’ e ‘anti-sociológico’ de Felipes Pondés, sinceramente, não sei o que é pior. Só sei que os dois andam reduzindo-se ao discurso que alimenta o ‘espetáculo’, gurus de uma massa ‘intelectualista-academicista’, esse monstro, maior do que essa ‘briga putanheira’ de ‘copa-não-copa’. Ver para além do bem e do mal é que é o problema. A (infra)estrutura está armada, até bem melhorada, mas a superestrutura, essa, anda cambaleando, bêbada pelos cantos, vidrando em UFC, Big Brother e futebol. Quando a cultura não acompanha o desenvolvimento econômico, só resta rezar. E pra quem é ateu, fudeu! Enfim. Uma crônica ‘espetacular’ para uma realidade ‘espetacular’. Meu cachorro também me acha muito coerente!


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó, 31/01...


Nota de esclarecimento

A copa do mundo de futebol é tida como um dos maiores ‘espetáculos’ do mundo. Do Brasil, provavelmente é. Quando falo em ‘espetáculo’ faço referência a um autor que se chama Guy Debord, e que escreveu uma obra importante para pensar o mundo contemporâneo a partir do conceito ‘espetáculo’. Trata-se do livro ‘A sociedade do espetáculo’. Fazendo uma relação com o filósofo alemão Nietzsche, um dos grandes pensadores modernos e a sua obra ‘O crepúsculo dos ídolos’, chego a minha análise. A grande mídia alimenta esse ‘espetáculo’ com  excessos que alienam ao invés de informar ou comunicar. É o jogo. É o ‘espetáculo’. Tanto que, em nossa cultura televisiva, prevalecem programas como o UFC, Big Brother e futebol. Nada contra o futebol em si. E nem teria contra o UFC ou o Big Brother se todos eles, ao invés de reproduzir ídolos e pensamentos idealistas, idólatras e medíocres, trouxessem arte, politização, conhecimento, para além do status quo. Acontece também que, alguns, por não compreenderem que, o que envolve um evento como a copa, além de gastos e todo aquele discurso opositor, é o ‘espetáculo’, ou seja, ela também é um instrumento ideológico e mantenedor. É cultura. A cultura de status em torno de um ‘esporte’ que gera lucro e idolatria. O Brasil teve grandes avanços sociais e econômicos. Agora, precisamos equiparar a cultura a isso, caso contrário, seremos a bola chutada por um Neymar ou a canela quebrada de um Anderson Silva. Se é que me faço entender...


* também publicado no jornal Folha do Bairro, 31/01...



3 comentários:

Karl Brunn disse...

Desculpe, mas seu discurso não está em cima do muro? Não leve para o lado pessoal, mas como algo construtivo. Para abrir um diálogo. Que lado você representa? Ou o que você se define politicamente. Mesmo que uma pessoa seja apartidária, ela toma partido de algo, 'Não ser representada por uma sigla' é uma forma de partido, o 'Independente'. Qual a sua forma de representar uma discussão política?

Karl Brunn disse...

Estou perguntando, pois senti uma confusão ao ver a imagem de Latuff com o seu texto. Você conhece a história dele? O que ele defende?
Seu texto é bem escrito, mas senti uma certa confusão política. Você defende algum governo? Algum sistema? Alguma teoria? Não ficou bem claro.

Herman G. Silvani disse...

saudações Karl Brunn! então.. a princípio, meu 'discurso' é uma 'análise' e não bem um discurso.. 'em cima do muro'? também colocaria diferente.. é uma 'análise feita sob a ótica de quem vive na fronteira'.. e isso, nem de perto significa estar em cima de algum muro.. para se estar na fronteira é preciso ter muita postura, equilíbrio e algumas posições mais ou menos definidas.. mas este é um assunto um tanto quanto profundo e filosófico que no momento não cabe.. não sei se 'represento' algum lado, ou algo.. mas tenho meus princípios, minhas bases teóricas, meus fundamentos e minhas práticas, sob tudo, a nível sociocultural (e político também).. se tivesse que me definir (mas não sou bom nisso), penso que seria algo entre o 'libertário', o 'anarquismo ontológico', o 'comunismo primitivo'.. em suma, 'um homem de fronteira'.. preso por certa 'desconstrução', certa 'transvaloração dos valores', por aí.. não sou filiado a um partido político oficial, mas dialogo e até atuo com alguns.. ou algumas pessoas partidárias.. mas isso não vem ao caso, penso eu.. como tenho algumas bases teóricas (poucas crenças e alguma fé), parto delas e daquilo que vivo, vivi e, principalmente das referências externas.. das pessoas e suas produções.. meu viés é mais filosófico e cultural do que meramente político.. mas isso não significa que não o tenha ou despreze, apenas penso e vivo além da política institucional-oficial.. mas não a nego, aliás, também trabalho com ela (sou membro de sindicato).. sobre Latuff, conheço sim.. sob tudo, desde que soube da sua ligação com o Zapatismo, movimento que muito estimo.. 'confusão'? que bom.. como cronista, faz parte do ofício.. a contradição (tome isso como 'provocação') é importante nesse tipo de linguagem.. não sou muito claro.. digamos que minha escrita e/ou pensamento, são 'de referência', ou seja, sem receitas e um único viés.. talvez tenha percebido minhas referências a Nietzsche, Marx, Hakim Bey, poesia e literatura modernas, etc. não 'defendo' teorias, mas as uso.. algumas.. poucas.. outras, combato.. outras ainda, ignoro.. mas considero muitas.. enfim.. os textos aqui do blog mais recentes talvez, elucidem um pouco mais de onde parto (fonte).. mas o que eu sou, ainda está para ser descoberto, mas como não importa muito, e a 'fronteira' é um 'não lugar', é possível que nunca seja.. 'de onde eu estou já parti' (como diria o poeta).. enfim.. obrigado pelo interesse, questões e leitura.. o mundo (e não só as teorias e aparências) é para ser lido.. interpretado.. vivido.. pois ele não se encerra.. continua.. grande abraço e saúde!