quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Personagens do espetáculo e mediocridade contemporâneos (no mundo virtual)



Da classe-média ascendente

Fenômeno pós-moderno hiper-contemporâneo dado pelo crescimento econômico do Brasil a partir do governo Lula e com continuidade no governo Dilma, a classe-média ascendente surge desse ‘avanço’ econômico, jamais visto antes na história do país. Trabalhadores que pagam seus impostos em dia e acreditam no chavão: ‘o trabalho dignifica o homem’. Dada a sua falta de leitura (teórica e interpretativa, não só de livros, pensamentos, teses ou pensadores, mas de mundo), acreditam que tudo vem do esforço pessoal, concepção típica do protestantismo pós-medieval que tem no trabalho (ao contrário do catolicismo medieval) a possibilidade do enriquecimento pessoal, o que os eleva ao céu. Essa ‘nova’ classe, reproduzindo ignobilmente valores da ‘classe dirigente’ (donos dos meios de produção – a partir da perspectiva marxista), mas não pertencendo a esta (metaforicamente falando – não possuem sangue azul), passa a odiar aquilo que sempre foram (e de certo modo, ainda são), trabalhadores da classe-média baixa (essa, não ascendente, mas, mais estabilizada um pouco). Em situações mais extremas, passa a odiar o pobre (economicamente falando). Essa nova classe-média ascendente se enxerga como se fosse ‘patrona’, ou seja, passa a babar ovo ou cagar pau (termos estilizados ou gírias) da classe-alta dirigente, justamente aquela que a explora, suga, violenta, ludibria, submete. Muitos membros dessa nova classe, parecem gostar disso, já que existe fetiche pra tudo neste mundo. Estão tão cegos nas suas convicções que acabam reforçando um sistema que dizem combater ou ser contra. Todos os seus problemas, mágoas, frustrações, estigmas, etc., passam a ter culpados: os pobres, pretos, putas, mendigos, marginais (os que vivem a margem), ladrões e criminosos menores de todas as estirpes, enquanto os grandes criminosos (ricos empresários e ruralistas latifundiários, auto escalão da polícia, do judiciário e afins, que concentram renda, terras e através de leis e arranjos políticos institucionais favorecem a corrupção e o jogo de poder gerando a maioria dos problemas sociais do país) passam despercebidos ou até mesmo são idolatrados por essa classe ascendente que pouco pensa e muito fala ou se manifesta, dado sua arrogância por, finalmente, conseguir um mísero status econômico. Seus ódios são de classe e raciais. Seus ódios são manifestados contra si próprios. Não conseguem perceber a história, interpretar os fatos, contextos. Estão tão cegas em seus pequenos mundos que, desferem suas iras contra os mais fracos (ou menos favorecidos do sistema), pois estes não tem defesa alguma. Covardia e imbecilidade de um tipo de pessoa que surge debaixo das asas do Estado atual com seus avanços econômicos. Acabam, por muitas vezes, cuspindo neste próprio criador seu: o governo e seus avanços econômicos, que favorecem, justamente, e dão luz a essa ‘classe’, a mais medíocre e burra que já existiu na história do país. Se o crescimento econômico é histórico, o crescimento da mediocridade também é – e isso está evidenciado na dita classe-média ascendente.

Opinião de uma facebookiniana referente a presidiários no Brasil:

“GARANTO que eles comem MUITO melhor que nós, que precisamos comer correndo pra conseguir ir corrrendo pro próximo emprego.


Dos filósofos e artistas da mediocridade (e tatuados roqueiros elitistas)

Vivemos, talvez como nunca, o espetáculo, naquilo que pensadores como Guy Debord chamou de ‘A sociedade do espetáculo’, Gilles Lipovetsky de ‘O império do efêmero’ e George Orwell de ‘Big Brother’. A banda brasileira Os Mutantes, nos anos de 1960 já cantava ‘Panis et Circenses’ com toda essa propriedade de pensamento e atitude (e eles nem eram tatuados ou mantinham estereótipos rebeldes como os contemporâneos – veremos isso no pondo de discussão a seguir). Nisso, atualmente, filósofos, estudantes, educadores, artistas, jornalistas (ou metidos a tudo isso – principalmente de facebook), entre outros, tornam-se grandes reprodutores do pensamento e atitudes ‘dominantes’, ou seja, da dita ‘classe dirigente’, mesmo não fazendo parte dela. Desprezam o conflito que existe entre as ‘classes’ (olha o velho Marx aí novamente!), como que se, tudo hoje fosse igual ou ‘tanto faz’. Existe uma espécie histórica de ‘segregação’ racial e de classe no Brasil. Porém, é confortável (quando não covarde), por parte de ‘pensadores’ e ‘artistas’ (ou outros bichos afins), apontar o dedo e no meio do Caos encontrar culpados, pretextos ou alvos para as suas indignações, frustrações, mágoas – sempre alvos individuais, já que não conseguem (ou não querem) perceber o ‘todo’, o contexto, o que envolve os agentes sociais (cultura, valores, história, etc.). Muitos desses arautos da razão e ‘bom mocismo’ contemporâneo, apontam também seus dedos dizendo: ‘coisa de pseudointelectual, de socialista, esquerdista, ou metido a comunista’, etc., referindo-se a certa problematização frente a alguns aspectos da realidade que envolve a chamada por Marx ‘luta de classes’. É só o que sabem dizer, nos seus míseros e medíocres julgamentos. Como agora: ‘Viu, eu sabia, o Herman é esquerdista, socialista, marxista, pseudointelectual!’. Como é fácil rotular e desracionalizar o debate mudando o foco. Só um detalhe: ‘Eu confundo amigos! Assim como, muitas vezes me confundo e sou confundido. Me permito a isso, ok?!’ Como transito e divago em algumas áreas do conhecimento e da produção artística, me dou o luxo. Uma necessidade, uma condição e não meramente escolha ou vontade de abraçar tudo isso. Infelizmente (ou felizmente), tenho essa condição, o que me limita em algumas coisas e me expande em outras. Mas não escrevo isso para falar de mim. Então, retornamos a questão. Tirar um criminoso ou escolher um alvo, um culpado, apontando o dedo, é fácil, tem de monte. O problema é ampliar a visão e perceber que o mundo vai além das pessoalidades. Muita telenovela, telejornal ou cinema hollywoodiano na vida das pessoas? Creio que seja, também! É preciso olhar para fora de si mesmo para perceber o mundo, o outro, assim como outros contextos. Culpar a pessoa, o ‘pobre diabo’ por isso ou por aquilo é reducionismo. Apontar uma solução, como se existisse um receituário pra isso, com convicção ou truculência, é determinismo. E a história, meus amigos, não é feita disso. Ao contrário. Somos filhos e agentes de processos históricos (e isso vai além de Marx, conste). Sendo assim, é mais coerente abrirmos a cabeça e os ouvidos para ouvir a voz dos marginalizados, dos marginais, da periferia e daqueles que estudam esses processos, pois se estes não tem o que dizer, quem dirá o resto. Muitos dos ‘apontadores’, como juízes de uma ‘razão do bem’, não são mais do que reprodutores desse sistema, e acabam por cada vez mais alimentá-lo, mantê-lo firme e forte, e esses, geralmente acham que estão contra, quando, são pilares sustentadores. Acometidos de uma febre idealista platônica, falam como se estivessem num lugar superior, elevado, e como se tudo o resto estivesse a baixo. Talvez, alguns minutos frente ao espelho, e dando voz (ouvindo) aos agentes diretos das questões, isso pode mudar essa situação. Enfim...

Opinião de um filósofo-artista facebookiano:

“Tá me dando nojo de ver os metidos a socialista defendendo rolezinho!! Vai fazer rolezinho na biblioteca pra deixar de ser ignorante!!”


Dos tatuados bombadinhos MMA aos tatuados Roqueiros elitistas: casos de estereotipo

Opiniões odiosas, lamurientas, carregadas de preconceito, determinismo, reducionismo e outros bichos, são corriqueiras entre os estereotipados. E são diferentes categorias e espécimes deles. Quanto mais melhor para o espetáculo cotidiano. Um tipo muito comum: os tatuados, sejam eles ‘a la lutadores de MMA’ ou ‘a la roqueiros’. Esses estão na moda. Frequentam academias para manter a forma, o estilo e o status, puxando ferro ou praticando algum esporte de luta, enquanto outros, tocam algum instrumento musical, leem livros, e tem opiniões radicais (ou radicadas, melhor). Ambos tem acessos, foram bem criados em famílias classe média ou alta, não conhecem a miséria, nem a pobreza física – a de pensamento, vivem, mas não identificam isso. Sempre olham para o outro a partir de si mesmos, sem ouvir ou perceber que além de si, existe o outro, e que a sua condição não é a mesma. Alguns até conhecem, mas não sabem o que fazer com o conhecimento. Nestes, até a inteligência e as habilidades são status, pois as usam, somente para si mesmos. São tão arrogantes que não veem além daquilo que querem ver. Ao primeiro risco de perder a razão, partem para a porrada ou convidam: ‘Suba no ringue comigo que te mostro!’ – ‘Não, não, obrigado, meu negócio é com mulher. Respeito as opções, mas agarrar e rolar no chão pra mim, só com mulheres mesmo. Não gosto de músculos e nem do suor masculino, obrigado!’. Outros são incisivos e por tanto lerem, dispõem de um ‘bom repertório de argumentos’: ‘Leve o bandido pra tua casa!’ – ou: ‘Sustente você o vagabundo!’.


Dos que acreditam em receitas e fórmulas mágicas e exigem solução imediata, no pretexto de excluir


Discursos odiosos, lamentos, lamúrias, iras, mesquinharias, reducionismos, simplismos, determinismos, mágoas, frustrações, estigmas, entre outros, são elementos na maioria das manifestações daqueles que engordam o espetáculo da miséria cultural cotidiana e contemporânea. Presos a moral e valores judaico-cristãos, brancos eurocentristas e a certo idealismo platônico que os faz sentir e crer estarem falando de um lugar melhor do que os outros, ou estarem acima da realidade e do outro, esses crentes, como fundamentalistas de uma convicção que os trai (leia-se Nietzsche – “olha o Herman pseudointelectual aí citando ‘Niti!’”), são reprodutores e mantenedores em potencial desse sistema de exclusão e seletivo. Muitos são capazes de justificar seus ‘privilégios’ com a ‘seleção natural das espécies’. Querem soluções, certezas, vitórias. Falam sempre a partir das suas carências, só não percebem isso – ou, em alguns casos, devem usar isso como fuga ou pretexto). Cobram dignidade, caráter, personalidade, boa conduta – do outro, pois não enxergam suas próprias faltas. ‘São bons’, ‘perfeitos’, ‘corretos’, ‘distintos’: moralistas! Seguem a ótica dualista, onde existe o confronto eterno entre ‘bem e mal’. Talvez nunca tenham pensado ou vivido coisas ‘para além do bem e do mal’ (outra obra fundamental de Nietzsche para quem se bota discutir temas como estes que, como ‘pseudointelectual metido a socialista’ que sou, sugiro). Talvez, falta se assumirem ou se permitirem mais: ‘Torna-te aquilo que és!’, pois ‘Se olhares muito tempo para dentro do abismo, se tornará parte dele’ (‘Niti’, denovo?! que cara mais chato!). Enfim. Querem solução? Então, isso já é um bom começo.

hgs.



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