O estrondo da ‘massa’ motivada
A violência compõe nossa cultura,
tanto que é um dos produtos mais vendáveis ou, pelo menos, mais ideologicamente
difundidos pelo espetáculo midiático. E ela age no ser humano de várias formas.
Palavras, gestos, além da violência física, estão cotidianamente acontecendo, sejam
simbolicamente ou de fato. Outra grande característica cultural que possuímos é
o pensamento religioso, principalmente o ligado a entidades ditas religiosas,
onde o discurso predominante é de cunho doutrinário, além de subjetivo e ideológico
ou político. Nisso, aquilo que alguns chamam de ‘massa’, como coletivo de
pessoas reunidas, é convencida e levada pelo discurso de alguns ditos ‘líderes
religiosos’. Muitos deles para que isso seja possível, se especializam em
técnicas de comunicação e convencimento, ficando fácil assim de ‘conduzir o
rebanho’. Não é por nada que um dos desígnios para este tipo de ‘posição
social’ é ‘Pastor’ (as ‘ovelhas’ são a ‘massa’). Mas, o que isso tem a ver com
violência?
Dias atrás outro caso de
linchamento aconteceu. Um jovem amarrado em um poste por algum furto foi
violentamente assassinado pela ‘massa’ (população), onde, em se tratando de um
‘coletivo’ (ou de uma ‘massa’ – acho que neste caso é mais apropriado assim
dizer), um motiva o outro a fazer parte do ato coletivo (ou ‘massificado’) de
violência. Dias atrás assisti uma palestra dessas que chamam de ‘motivacional’,
onde o tema era muito interessante, porém, o desfecho teve sua inclinação
religiosa doutrinária, o que acabou, de certo modo, diluindo o conteúdo. O
palestrante, através de técnicas (retórica e oratória impecáveis), pegou de
jeito a ‘massa’ ouvinte, fazendo todos (ou quase todos) se sensibilizarem em
torno de si. No fim prantos, muitos prantos. Um choro coletivo acompanhado de
certo êxtase. Uma droga anestésica havia se espalhado pelo ar contagiando a
todos. Sendo a grande maioria ‘cristãos’ (culturalmente e religiosamente
falando), ficou fácil o convencimento e a motivação para um final emotivo e,
diga-se de passagem, irracional. Mas, novamente, o que isso tem a ver com
violência? Tudo. Não com a violência em si, mas com a motivação e/ou o contágio
que um momento, um fato, pode gerar na ‘massa’. Indução e condução através da
palavra, gesto e imagem. Assim como a o ‘rebanho’ agiu num choro coletivo e obedeceu
aos comandos do ‘pastor’, ele também agiu em atos físicos naquele caso do linchamento.
Ambos os casos, a partir de ‘motivações coletivas’, onde o ‘emocional’ é tocado
em detrimento do ‘racional’. Psicologia pura, há quem diga. Ações ou discursos
símbolos que criam fiéis seguidores que, geralmente, não pensam por si próprios,
nem nos atos que venham a tomar. Eis a semelhança de um caso e de outro. Eis a
ação da ‘massa’ (ou das ‘ovelhas’) que, se bem motivada, pode gerar um estrondo
na realidade.
* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.
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