quarta-feira, 22 de julho de 2015

Leituras do Cotidiano

O estrondo da ‘massa’ motivada


A violência compõe nossa cultura, tanto que é um dos produtos mais vendáveis ou, pelo menos, mais ideologicamente difundidos pelo espetáculo midiático. E ela age no ser humano de várias formas. Palavras, gestos, além da violência física, estão cotidianamente acontecendo, sejam simbolicamente ou de fato. Outra grande característica cultural que possuímos é o pensamento religioso, principalmente o ligado a entidades ditas religiosas, onde o discurso predominante é de cunho doutrinário, além de subjetivo e ideológico ou político. Nisso, aquilo que alguns chamam de ‘massa’, como coletivo de pessoas reunidas, é convencida e levada pelo discurso de alguns ditos ‘líderes religiosos’. Muitos deles para que isso seja possível, se especializam em técnicas de comunicação e convencimento, ficando fácil assim de ‘conduzir o rebanho’. Não é por nada que um dos desígnios para este tipo de ‘posição social’ é ‘Pastor’ (as ‘ovelhas’ são a ‘massa’). Mas, o que isso tem a ver com violência?


Dias atrás outro caso de linchamento aconteceu. Um jovem amarrado em um poste por algum furto foi violentamente assassinado pela ‘massa’ (população), onde, em se tratando de um ‘coletivo’ (ou de uma ‘massa’ – acho que neste caso é mais apropriado assim dizer), um motiva o outro a fazer parte do ato coletivo (ou ‘massificado’) de violência. Dias atrás assisti uma palestra dessas que chamam de ‘motivacional’, onde o tema era muito interessante, porém, o desfecho teve sua inclinação religiosa doutrinária, o que acabou, de certo modo, diluindo o conteúdo. O palestrante, através de técnicas (retórica e oratória impecáveis), pegou de jeito a ‘massa’ ouvinte, fazendo todos (ou quase todos) se sensibilizarem em torno de si. No fim prantos, muitos prantos. Um choro coletivo acompanhado de certo êxtase. Uma droga anestésica havia se espalhado pelo ar contagiando a todos. Sendo a grande maioria ‘cristãos’ (culturalmente e religiosamente falando), ficou fácil o convencimento e a motivação para um final emotivo e, diga-se de passagem, irracional. Mas, novamente, o que isso tem a ver com violência? Tudo. Não com a violência em si, mas com a motivação e/ou o contágio que um momento, um fato, pode gerar na ‘massa’. Indução e condução através da palavra, gesto e imagem. Assim como a o ‘rebanho’ agiu num choro coletivo e obedeceu aos comandos do ‘pastor’, ele também agiu em atos físicos naquele caso do linchamento. Ambos os casos, a partir de ‘motivações coletivas’, onde o ‘emocional’ é tocado em detrimento do ‘racional’. Psicologia pura, há quem diga. Ações ou discursos símbolos que criam fiéis seguidores que, geralmente, não pensam por si próprios, nem nos atos que venham a tomar. Eis a semelhança de um caso e de outro. Eis a ação da ‘massa’ (ou das ‘ovelhas’) que, se bem motivada, pode gerar um estrondo na realidade. 


* também publicado no jornal Gazeta de Chapecó.



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