sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O que um pretendente a filósofo fantasia entre quatro paredes?

...ou, da ignorância justificada 


Um ‘alguém’ volta a ‘jogar merda no ventilador’ através de um texto típico de um traumatizado jovem blogueiro contemporâneo, desta vez tentando diminuir a História ao tamanho da sua consciência histórica – que se apresenta diminuta - através de falácias e de uma retórica medíocre num discurso que mescla pseudo-conhecimento com o mais usual senso comum, vulgarizando e banalizando assim a linguagem de cunho literária que acredita saber fazer uso. Vou chamar este ‘alguém’ de ‘Carinhoso’ (referenciando-o ao seu blog, numa alegoria ao desenho ‘Ursinhos Carinhosos’, pois toda a sua fundamentação ‘radicalista’ parte dessa alegoria que aparenta, mas não é).

 

No mais recente texto no seu blog, Carinhoso reclama que a História não o salvou dos sofrimentos e chagas do mundo servil do trabalho...

 

Desculpe chamá-lo para a realidade Carinhoso, mas a História não é um ‘exército da salvação’ nem um filantropo cristão que vai te salvar dos teus traumas e sofrimentos existenciais. Se esperava por isso, ela deve mesmo ter te desapontado. De duas, uma: Ou você não aprendeu a diminuir o sofrimento com a compreensão e estudo da História porque é tolo e seu professor colegial era muito ruim, ou ainda acredita numa missão redentora-divina da História, que vai te salvar do mundo real. Muitos que realmente estudaram, melhoraram suas condições existenciais e psicológicas, mas a ‘capacidade’ de cada um funciona um pouco conforme a sua inteligência. Portanto, resolva-se! Não culpe a História por aquilo que não consegue admitir ou compreender, ela só existe por que o homem e as relações existem. Portanto, todos somos parte da História e ninguém está alheio, além, abaixo, nem acima dela. Alguns a ignoram é certo, pelo medo da realidade e que ela suscita, porém, a ignorância é de cada um e conforme sua compreensão do todo.


Em outra passagem traumatizada do seu texto, Carinhoso diz que ria das aulas de História ‘sentindo pena’ dos ‘insignificantes professores de História que ainda acreditam!’ (no que? Na realidade? Ou no ideal de uma possível realidade? Isso tá mais para a filosofia idealista e romântica do que para a História). Por fim, acaba deixando claro sua ‘opção’ (ou sujeição) ao esquecimento, quando critica os professores de História por lidarem com ‘lembranças’. Como se isso fosse uma opção – aqui há uma grande confusão de conceitos e papéis.


Existem professores e ‘professores’, e isso acontece em todas as áreas do conhecimento. Portanto, não é privilégio da História ter horrendos professores. Pelo ‘trauma’ que Carinhoso demonstra a História, seu professor deve ter sido mesmo um desastre. Daria até pra sentir pena dele se adiantasse alguma coisa, mas a vida é assim! A preferência pelo ‘esquecimento’ e o desprezo pela ‘lembrança’, tem relação direta como o medo que a Clio gera aos mais ‘idealistas’ ou sonhadores, aqueles que não conseguem compreender ‘o porquê’ da sua situação e da situação do mundo em que vivem, devido a algum entrave psicológico-mental-moral-fisico-sexual e/ou a subestimação da própria História (Freud e seu discípulo Lacan podem ser consultados aqui). Estes ‘afirmadores do esquecimento’ passam a negar a História sua e dos outros, assim como todo o contexto. Aí surge uma existência ligada ao divino, ou seja, uma existência sem nenhum dado histórico ou real, uma existência mágica onde a consciência sobre si e sobre o meio não existe.


Um dia, numa conversa pelo MSN, falava justamente disso com um amigo escritor e estudante de filosofia (que por enquanto é virtual), quando ele, satirizando, escreveu se referindo a um determinado tipo de estudante de filosofia: "Oh, espere, deixe-me pensar sobre referido tema enquanto fumo um cigarro, tomo um café e enfio o dedo em minhas feridas existenciais". Isso comprova que ainda existem estudantes que dignificam seus objetos de estudo e possuem um senso crítico daquilo que se propuseram conhecer.


O que Carinhoso não sabe, é que, somente períodos e fatos datados não fazem História. Só isso não é história! A história está muito além das divisões de períodos históricos e datas. A História é dividida em correntes historiográficas, e a História que o Sr. Carinhoso aponta em seu texto de blog (admite pra si), é a "tradicional" (ou ignorantemente desconhece as demais correntes, ou usa a retórica de um discurso hipócrita para convencer o leitor mais leigo). Quando Carinhoso trata a História como sendo algo meramente datado, estático, está simplesmente ignorando ou desconhecendo sua própria condição, pois além de passado, a história estuda e acontece no presente. A História não é estática ou morta como os conservadores de toda ordem pretendem fazer crer. Muito pelo contrário, a História é viva, ela circula em movimentos espirais e caóticos, além das ditas ‘leis’ da natureza e da filosofia. "Tudo é História", e apesar de serem independentes, todas as outras áreas do conhecimento estão dentro da História (aqui, História é algo maior do que uma disciplina escolar e/ou acadêmica).    



Carinhoso é carente de compreensão quando trata a História como uma legitimadora do que é a pretensa verdade absoluta. Já nasceram outras vertentes históricas, e faz tempo! A História também não acontece somente no Macro, ela está no micro, no dia a dia, no cotidiano de cada um e, cada um tem e faz História. Esse pensamento ‘pequeno’ do que seja a História, dela ligada somente aos grandes acontecimentos, já foi, é passado e provou-se equivocado. Não se estuda mais nessa perspectiva – e faz tempo! Viu Carinhoso! Aí está a falta grave de conhecimento histórico do Carinhoso. Inconscientemente e com uma pseudo razão, ele admite isso quando nega a História.


“A história de uma nação não está nos parlamentos e nos campos de batalha, mas no que as pessoas dizem umas às outras em dias de feira e em dias de festa, e na maneira como trabalham a terra, como discutem, como fazem romaria”.

                                                                                          W.B. Yeats


Quem estuda História deve saber que existem ‘correntes historiográficas’, ou seja, formas de se pensar, teorizar, discutir e praticar o estudo de História. O que muitos pretendentes a filósofo não compreendem (mas deveriam), é que quando o filólogo-filósofo alemão Friederich Nietzsche escreveu: “Em busca dos primórdios, nos tornamos caranguejos. O historiador olha para trás; por fim, também acredita para trás”. - é que ele escreveu isso dentro de um contexto. A questão à saber: Que contexto é esse? De qual ‘historiador’ ou corrente historiográfica ele se refere? Qual corrente predominava na sua época, no seu período, ou seja, naquele dado contexto? Isso é tão importante quanto o que foi escrito. Negar ou ignorar isso, é a prova da falta de compreensão e de estudo, a falta de certo conhecimento necessário para ‘toda a interpretação’. Eis a importância do indispensável contexto histórico.


Negar a História é negar o passado e admitir a ignorância que permeia o presente, assim como permitir o prevalecimento da falta de bom senso em discussões e ações, seja elas de nível científico ou cotidiano. Todo o conhecimento requer tempo - o tempo necessário da experiência - pois o conhecimento não é imediato nem momentâneo ou divino, nem deve ser efêmero ou determinista, antes, deve perdurar, ser acumulado para possíveis análises, compreensões e interpretações. Não fosse assim, viveríamos no escuro da ignorância. Se a História não existisse não existiria também o pensamento, as idéias, questões, indagações, objetos de estudo, e tudo mais o que circunda a existência humana, tanto física quanto racional. Portanto, ela é ‘fundamental’ e imprescindível ao homem, a toda a ciência e aos demais conhecimentos. Sociologia, Antropologia, Psicologia e inclusive Filosofia (entre outras), são ‘inegáveis’ ciências complementares da História (cada uma com suas particularidades e valores próprios), conhecimentos que complementam o estudo histórico, e não o contrário.


Portanto, negar a História ou politicar para a sua diminuição, é negar o próprio conhecimento (e todas as áreas dele), a própria ciência, a própria vida, assim, o próprio homem. Além de carne e ossos, biogenética, idéias, sentidos e imaginação, somos feitos de memória e senso da realidade, e isso só se adquire no percurso da História. Generalizar o trabalho do historiador, assim como a História, como se ela fosse algo superficial, descartável, é um ato de fuga, uma covardia perante o horizonte de possibilidades que o estudo histórico nos oferece. O grande Historiador inglês Eric Hobsbawm em sua obra “Era dos extremos” ressalta: “Contudo, como talvez os historiadores queiram lembrar aos especuladores metafísicos do “Fim da História”, haverá futuro. A única generalização cem por cento segura sobre a história é aquela que diz que enquanto houver raça humana haverá história.”


Muitos temem a História, pois ela é dura, caótica e está em constante movimento. A História trabalha com interpretações, versões de um mesmo fato, surgidas através da investigação histórica, sendo assim um campo de possibilidades e não de determinismo. Como bem anota Hobsbawm referindo-se ao historiador: “(...) seu trabalho não tem nada a ver com palpites em corridas de cavalos”.



Carinhoso imagina a História, justamente por não a compreender. Prefere dar provas da sua ignorância publicamente do que admitir isso. - Portanto, Carinhoso, creio que deva caprichar mais na lição de casa, prestar mais atenção nas suas aulas de filosofia e parar de degustar Nietzsche ou qualquer outro pensador de cunho mais crítico em prato raso, além de reconhecer que você não é maior do que a História (o sentimento de grandeza retarda o desenvolvimento intelectual humano). Isso não irá salvá-lo das mazelas do mundo, mas poderá ajudá-lo há compreender um pouco melhor o mundo em que vive (assim, talvez você possa ter mais ciência do que escreve e afirma por aí), pois sem a História meu caro, isso é IMPOSSÍVEL!


“A incompreensão do presente nasce da ignorância do passado.”

                                                                                                                           Marc Bloc

* Criança Guarani, São Miguel das Missões - RS (em finais dos anos 2000)
* As ruínas jesuíticas: o passado... A criança descendente: o presente... (Foto de Liza A. Bueno).

"Isso é História... A História Viva!"



8 comentários:

Dr. Arnaldo disse...

É... Essa criança Guarani, só é visível graças a História. À sua História. Se dependesse dos negadores da História, ela jamais seria vista ou considerada. É o que os puritanos gostariam.

Anônimo disse...

Que que os dois aí tão discutindo história, se não sabem ainda nem usar a língua portuguesa? Ó, cognição nota zero pro filósofo e pro historiador.

fabita . disse...

acho interessante esse conflito, essa busca pelo conhecimento e exposição nesse meio. acredito que, independente das razões de cada um, o importante é fazer esse exercício intelectual, permitindo que outros possam refletir a partir das considerações de cada um. o texto ficou bom, niko, profundo e bem embasado. tua disposição para o combate é louvável, se é que isso é uma guerra. se for, está servindo para eu dar boas risadas e inspirando reflexões. há tempos não via tamanho confronto da razão. estou gostando. esse pequeno espaço de terra em que vivemos, precisa de movimentação intelectual, aprimoramento da escrita, da pesquisa, da filosofia, da história. li o texto em voz alta. encarnei um personagem de rádio, ficou bacana. dia desses leremos textos como esse em alguma emissora de rádio pirata, quem sabe. textos que geram textos-resposta, num ciclo sem fim e riquíssimo.

salud.

Herman G. Silvani disse...

pois é.. estou precisando de um revisor de texto.. alguém técnico e que saima TUDO de gramática.. alguém se habilita?? pago em aulinhas básicas de violão ou História.. 'básicas'..

Herman G. Silvani disse...

ops. não é 'saima', é 'saiba'.. olha aí.. realmente, estou com 'graves' problemas.. acho que vou parar de escrever e pensar por causa disso.. é um bom motivo, é uma boa desculpa.. a gramática da norma culta da língua me venceu.. sniff! sniff!

Fábio Dallas disse...

Cara, aprendi uma coisa desde pequenininho: Por mais que se queira destruir a nossa cultura, a nossa língua, os nossos costumes,... sempre haverá um sobrevivente que contará a verdade. E isto, o que é, então?

Anônimo disse...

HISTÓOOOOOORIAAAAAAAAAAAAA!

Anônimo disse...

foto massa essa