segunda-feira, 27 de junho de 2011

Bang-Bang!

Histórias do Velho Oeste: Anunciação...

No começo, eram índios e caboclos, os nativos desta terra. Naquele tempo já não havia lei, mas havia certo respeito. Os índios caçavam e plantavam. Os caboclos plantavam e caçavam. Cada um na sua. Até se davam bem quando se encontravam. Claro que, volta e meia, uma peleia acontecia. Meu avô sabia disso tudo, pois viveu o final desse tempo. Mas como as coisas mudam, o tempo passou e as coisas mudaram. Meu avô viu seu pai ser expulso da terra e os índios serem maltratados, usurpados, explorados, mortos. Plantava e colhia erva mate. Lidava um pouco com gado. Mais pra lavrar a terra mesmo. Minha avó na lavoura: mandioca, batata, feijão, etc., etc. Dava pra viver, e bem! Mas eles chegaram. Trouxeram consigo a ganância. Uma promessa de terra fértil, solo rico: ouro, prata e diamante. E isso era verdade - tirando o ouro, a prata e o diamante. Não julgo os imigrantes pobres por isso. Julgo sim, os ricos colonizadores e suas ambições. A mentira das companhias colonizadoras para invadir e cercar o espaço que agora é totalmente privado. E os índios e os caboclos ficaram na saudade. Quando criança eu passei fome. Quando criança eu passei sede. Mas meus pais, que muitas vezes deixaram de comer e beber, não deixaram que eu sucumbisse no tempo. E eu cresci. E eu me tornei homem criado. Pêlo duro e temperamento indomado. Recebi um legado como herança. Tá no sangue. Tá na alma e em alguma cicatriz que ficou do meu tempo de guri. Um homem como eu, e que passa seus dias no Velho Oeste, precisa de três coisas na vida: uma boa montaria e um bom e verdadeiro amigo. No caso, um cavalo e um cachorro. A terceira e última: um bom pau de fogo. Isso mesmo, uma arma, um revólver. Sem isso fica difícil sobreviver. Sim, sobreviver! Porque aqui ninguém vive. Coronéis e as famílias que circulam em torno destes - como moscas varejeiras em torno da carniça - depois de sacanearem valendo os índios e caboclos, de enganarem os imigrantes mais pobres, criaram um mundo que é só pra eles, com porteiras e aramados, capangas e excessos. O que eles não sabem, é que isso tudo não dura pra sempre. Muitos, assim como eu, são herdeiros do passado e estamos aqui, no presente, bem debaixo de seus narizes, quase invisíveis e prontos para a peleia.


Histórias do Velho Oeste VII, o baile

Meus olhos entupidos de poeira. Não via dois palmos a frente. “Estou morto!”, pensei. Todas as pessoas do salão me olhavam com espanto. Não haveria de ser diferente, o baile fora interrompido por minha causa. Marieta observava tranquilamente o baile nas costas de Jordanio, aquele almofadinha, filho de papai e mamãe, donos de terras aqui aos arredores, madeireiras e membros da elite local. Eu, um mero forasteiro com lenço – vermelho - mas sem documento, suspeito de alguns incêndios na cidade, cheguei ao baile com a única intenção de me divertir um pouco. Mas um caboclo estrangeiro, estranho e suspeito num baile familiar, onde se concentra todo o poder em sobrenomes, só poderia dar no que deu. Logo que entrei porta adentro, percebi que pisei em terreno inóspito. Me danei! Mas já era tarde pra voltar atrás, e já que estava lá dentro com todos os olhos me mirando, resolvi ficar. Não teve jeito. Fiz a besteira de ir até aquela reunião de coronéis e seus agregados e submetidos. Estava feito... “Quem entra num baile tem que dançar!”, já dizia meu velho pai, caudilho de marca maior. Mirei a prenda mais bonita do salão e fui me chegando, devagarzinho. Marieta era filha de um bolicheiro braço direito de um coronel. Tomei uns tragos pra deixar de lado qualquer paranóia e me despenhei na empreitada. “Com licença moça! Aceita dançar esta marca comigo?”. Marieta arregalou seus grandes olhos verdes e sua pele assumiu um tom pálido a deixando ainda mais bela. Não percebi que a moça estava acompanhada quando fiz este gesto. Jordanio que estava logo atrás de Marieta, tomava sua cerveja numa roda de amigos, todos muito bem trajados e com ares de superioridade militar. Percebi o erro, mas não retrocedi. O semblante indeciso de Marieta assumiu um misto de desespero e simpatia. Um meio sorriso da moça pra mim foi o suficiente para fazer Jordanio perder as estribeiras. Virou-se num só pulo já sacando da sua faca de prata. Mas ele não esperava que eu fosse mais rápido e que minha adaga fosse mais precisa. Antes mesmo que ele me cutucasse, enfiei a adaga no pulmão do bicho. Uma poça de sangue se formou bem na frente de Marieta, que sem reação alguma parecia me agradecer com seu silêncio gritante...

Continua...

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