terça-feira, 4 de outubro de 2011

...é sucesso minha gente!


















O pátio & a feira

A euforia toma conta da cidade. Sim, Xapecó terá um pátio. Mais um. Mas esse é dos grandes – como o aqui de casa (risos!). Vai dar pras crianças se divertirem, pros jovens sonharem como nunca com o paraíso do consumo e os adultos se sentirem realizados com tamanho empreendimento. É o sucesso minha gente! O orgulho dos desenvolvimentistas. As vitrines já estão a sua espera. Só não esqueça de levar o talão de cheques ou o cartão eletrônico. Pode ser dólar também. Se não tiver, vai real mesmo. Se não tiver real? Ah! Sei lá! Vai liso mesmo! É só fazer de conta que é bem sucedido e moderno pra passear pelo pátio. Mas será que nesse pátio vai ter grama? Será que nesse pátio vai ter sombra e água fresca? Quero ver! A euforia toma conta do público xapecoense. Além do pátio, tem a feira. Sim, a EFAPI 2011: ‘grande como você!’. Não, não, esse foi o ‘mote’ passado. O desse ano é ‘Espetacular!’. É pena que eu não possa me incluir nisso. Sou tão pequeno! E nada espetacular. Não sei como é que pode, mas tem gente que me chama: ‘Grande Herman!’. ‘Grande Niko!’. Ou essa gente não enxerga direito ou estão fazendo piada com minha pessoa - ou sou eu que não entendo? Mas isso não me incomoda. Nenhum pouco. Ainda mais agora, com a abertura do pátio. Vou lá. Vai ter MacDonald’s, Havan, Lojão popular, Mercearia da Rose, Churros do polaco, Cachorrão do Magrão, entre outros – Ish! Acho que estou misturando as coisas, me perdoem! A feira então vai ser um espetáculo (principalmente de sertanejo universitário). As universidades de Xapecó e região vão dominar o território, e os universitários farão a festa. Fontes inseguras me disseram que o Luan Santana vai vir montado no seu ‘meteoro da paixão’ e cair direto na concha acústica. Vai ser uma explosão! De parte dos ‘artistas’ locais, ainda nenhuma divulgação por parte da prefeitura. Talvez as ‘pratas da casa’ não mereçam, já que não estão no topo do ‘espetáculo’, não é? Com o pátio e a feira, Xapecó vai ser sucesso e, certamente, eu serei bem mais feliz com isso...


Paraíso!

 As vitrines me seduziam tanto! Quanta coisa bonita! Quanto brilho, quanta luz! E a loja dos brinquedos e a loja dos doces, que maravilha! Meu ‘paraíso artificial’ – mesmo eu não sendo Rimbaud. No começo tudo é festa, tudo é lindo e espetacular. Depois, o tempo passa e tudo muda. Os deuses conspiram a favor da desordem superficial das coisas. É o Caos que vem nos brindar com sua dança de mistérios e transformação. O Caos, que nem um deus é. A contradição do mundo sob meus olhos infantis. Mas eu não percebia. Meu pai, cansado do dia de lida no trabalho, sob a minha insistência me levou ao shopping. Descobri um mundo lá que eu não conhecia. Mas esse mundo não era pra mim. Foi criado, confeccionado, minuciosamente, para o entretenimento daqueles que dispõe de condições financeiras para o desfrute. O entretenimento também tem seu preço - e é caro! Eu, ingênuo, uma criança, torrei o saco do meu pai até que ele me levou. O shopping estava cheio – de pessoas e bugigangas. Mercadoria para todo o lado. Comércio. Sorrisos depravados por todos os cantos. Pais que levam seus filhinhos para que estes encham os olhos, maravilhados com tantas bugigangas nas vitrines. A maioria daquilo tudo não serve pra nada ou só serve para encher as casas e o falso orgulho das pessoas de ambição desmedida. Mães mal humoradas por causa de seus maridos que, seduzidos pelo andar lascivo das beldades juvenis que desfilam suas luxúrias pelos corredores, não desgrudam os olhos delas. Coisa que na Idade Média sentenciaria as jovens sedutoras à fogueira da Santa Inquisição cristã por bruxaria. Seduzir era algo tipo, hipnotizar, tentar, dispor a alma ao demônio. Eu, como todo mundo, anestesiado de tanta coisa ao meu redor, nem sentia mais minhas pernas doendo de tanto andar. Meu pai, num esforço danado, me comprou um algodão doce. Mas eu o ridicularizei por isso. Onde é que se viu, num lugar como aquele, onde outros garotos comem hambúrguer vendido numa lanchonete onde o dono é um palhaço, eu comendo algodão doce? Coisa mais brega! Que vergonha do meu pai, andando com aquele palito de algodão rosa na mão. Mas era tudo o que o velho podia me dar. E eu não quis. Adoro algodão doce, mas naquele momento, fiz de conta que odiava, nem ser por que. Hoje que a figura do meu pai já não se faz mais presente, eu gostaria de vê-lo, daquela forma, sorridente e caminhando em minha direção com aquele palito de algodão na mão, a imagem mais bela da minha vida, e que eu desprezei. Agora, faço o mesmo. Levo meu filho ao shopping e percebo no seu olhar um brilho de sedução - esse espetáculo tão cheio e tão vazio...


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