Eu não tenho muito, mas tenho a palavra. Se me pedirem se ela é
suficiente, digo que não. E não minto. Mas o excedente me basta - além da
palavra – e isso pode ser pouco, mas também pode ser muito. Escrevo desde muito
novo. Minha timidez e o silêncio que eu era quando criança, transformaram-se em
palavra escrita – minha melhor forma de comunicar, até hoje (acho!). Com o
passar do tempo, também aprendi a falar em público, e a palavra se transformou
em voz sonora. Demorei muito para adquirir minha própria voz – tanto a falada
quanto a escrita. Também já fui apenas um mero reprodutor de palavras e valores
– se bem que não lembro desse tempo (se é que ele existiu). Desde muito cedo
desconfiei da palavra dita, pregada. Pregações e pregadores nunca me
convenceram, e hoje estou aqui, minando espaços com a palavra. A palavra é
arma, a palavra é furação, a palavra é bomba. A palavra tem força, tem voz, tem
vida. E eu faço dela um exercício, do dizer, do existir, do ecoar. Por vezes,
diferente da matéria, a palavra é eterna - tanto é que muitos se eternizaram
por ela. Mas não é por isso que escrevo. No entanto, também é por isso que
vivo.
Herman G. Silvani
* também publicado no jornal Folha do Bairro - 03/05
Um comentário:
Nada melhor que uma boa palavra.
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