quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A fuga da melancolia

Hoje estou vestido com a roupa da melancolia. Ando pra lá e pra cá dentro de casa, solitário e com a roupa cinza de ontem. Cinza é a cor da minha melancolia. Não me pergunte porque nem quando, ou o que será. Só perceba que hoje a melancolia está como um abraço colada em mim. Espero uma música que me embale nesse estado de espírito. Radiohead é um bom pedido. Vou até a sala e ligo Radiohead no som. A melancolia sorri. Eu sorrio. Sinto a música entrando pelos meus ouvidos, meus olhos, minha boca. A música entra pelos poros do meu corpo e vai dar direto na alma. Minha melancolia cinza se alegra comigo. E nós dois, juntos, cantamos o refrão da música que toca no som da minha sala. Arriscamos uns passinhos dessa ‘não dança’. Estávamos quase ficando verdes quando, desritmados, voltamos a nos acinzentar. Paramos. A música acaba. Minha melancolia continua. Agora ela me abraça ainda mais forte. O tempo está passando e amanhã é segunda e a segunda, segundo Neruda, arde como petróleo. Eu deixo que o tempo passe e que a melancolia permaneça enquanto ouço no meu som da sala Radiohead. Você não conhece Radiohead? Então precisa conhecer. Nem que não goste. Não é essa a questão. Gostar ou não gostar, é muito pouco. É quase nada. Você tem que ouvir, só isso. Deixar o som inundar seu corpo, até que ele transborde e afogue sua racionalidade petrificada. Minha paixão pela música é maior que o mundo. Minha solidão de domingo é passageira, eu sei. Mas a solidão que dói de saber estar deslocado desse mundo, essa é eterna. Eu sonho com você chegando e abrindo a porta aos gritos. As palavras que você grita são versos. O poeta que você verbaliza em tom agudo e alto se chama Antonio Paladino – ‘e os versos se perdem no Caos...’. Acordo dessa breve utopia imaginativa. Agora minha melancolia passa a ter um nome: Angústia. E eu agonizo esperando o domingo passar. Na segunda-feira ardente como petróleo, o trabalho, a obrigação, o movimento corporal e rotineiro, a mecanização e a massificação do eu dentro do espaço delimitado para o trabalho, possivelmente me fará sentir melhor. Um pouco melhor. A rotina cansa e aliena. O horário mecânico submete e adestra. E a melancolia, finalmente sai em fuga. Essa  companheira infame foge da razão como um animal flechado foge do seu destino.


Nenhum comentário: