sábado, 15 de outubro de 2011

Aos meus mestres...

“Papai! Mamãe! Quero ser filósofo!”. “O quê?”. “Posso ser então escritor, poeta?”. “O que é isso garoto?!”. “Ta bem! Desculpem! Que tal então professor?”. “Cê ta brincando ou ta ficando louco?! Tu vai ser é médico, dentista, engenheiro, arquiteto, algo assim, e fim de papo!”. “Mas pai, mas mãe...”. “Não tem mais nem menos! Pare de falar besteira e vá já pro seu quarto!”. Antigamente, professor, ou escritor, ou poeta, ou filósofo, era mais do que uma profissão, e não era apenas um status social também, era um ‘título’ admirável, respeitável, enobrecedor. Mas todos esses, de certo modo, são mestres (ou deveriam assim ser feitos, tratados, considerados e respeitados como tal). Mas não, hoje isso não é mais assim (ou bem assim). O mestre (ou o professor, além do conceito tradicional que é ‘aquele que professa’ – vamos aqui abrir e expandir o termo além desse conceito), é aquele (ou pelo menos deveria ser), que no domínio de certos conceitos adquiridos por estudos, pesquisas, leituras, experiências e vivências, está apto e disposto a propagar, a dialogar, a socializar seus conhecimentos com o mundo. Numa relação de troca e nunca de imposição, o mestre adquiriu conhecimentos e saberes que, por sua vez, serão novamente trocados e espalhados por onde passa. Essa é a função primordial do mestre. Com certa anulação do ego, o mestre possibilita o aprendizado, livre, aberto, audaz. Nada de doutrinamento, mesquinhez ou reprodução. Mestre que é mestre possibilita a construção do conhecimento e a desconstrução do que se tem como ‘verdade absoluta’. A principal arma do mestre é o questionamento, a perseverança, tão necessários ao conhecimento. Sem isso, não há conhecimento, apenas, discurso, disfarce, doutrinamento, ideologia. O mestre supera tudo isso na hora da relação com o outro, nessa troca infinita que se estabelece entre os seres humanos. Hoje, o que entristece muito qualquer mestre é saber que os mesmos pais (parte considerável deles) que largam seu filho nas ‘mãos’ do mestre ou da escola, não querem que ele seja um mestre. Querem-no um técnico. Alguém que com sua profissão ganhe dinheiro, só isso. É uma questão de concepção de um mundo atrelado ao capital, e nisso, o capital atrelado diretamente a um conceito de felicidade e boa vida, a um ideal romantizado dessa falsa realidade. Mas, independente de tudo isso, ainda é o mestre que abre possibilidades, mesmo as de enriquecer e ser ‘bem sucedido’ (resta saber o que realmente seja isso). O mestre, hoje, desprestigiado como nunca, ainda existe, e mesmo que raro, faz de seus discípulos a esperança da humanidade que já é uma virtude e não mais uma condição. Enfim... Viva o mestre!


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