quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Pais e filhos...


















(by HGS)


Desde crianças somos estimulados a competir. “Meu filho/minha filha, será o melhor!”. É deprimente ver a imagem medonha que vi pela televisão. A mãe que veste o filhinho ou a filhinha como o seu ídolo predileto. Gostaria de ter o ídolo. Frustrada pela sua realidade que não é a que gostaria, faz do seu filho a imagem falsificada, reproduzida do ídolo. Incita o filho a ter os gestos, os modos do ídolo. E o pai, abestalhado, do lado, dando seu apoio, aceita isso sem ao menos pensar se é isso mesmo que o filho quer ou necessita – ou o que quer para seu filho, ou ainda, o que é o melhor para ele (mas nesse estado anestésico de alienação, isso não importa). Não vê, não quer ver, ou finge não ver para não ‘ter problemas para o seu lado’. E a criança desde cedo se torna o brinquedinho robotizado e manipulado da família nuclear - sustentáculo dessa sociedade espetacular - a nova reprodutora dos desejos reprimidos e das frustrações dos seus pais e de todo o mundo adulto. E as crianças penam, pagam e são condenadas e obrigadas a seguir o rumo estipulado mecanicamente pelos seus tutelares. Nisso, liberdade, felicidade, realização, são apenas discursos que maquiam a realidade. Tudo isso muito aparente, quando no fundo, uma dor interna e incompreensível corrói o pouco de humanidade que ainda resta no âmago do ser humano. “O melhor para o meu filho, é o melhor que ‘eu quero’ pra ele!”. É quando se estabelece uma relação de protetor e protegido como uma hierarquia. É quanto o amor se torna domínio-formalidade, e não felicidade-necessidade. É o ‘amor propriedade’. Como se um filho fosse um bem material, um pedaço de terra onde se plantam idéias, crenças, conceitos e ideologias. Medo desse filho sofrer? Talvez. Mas ele por acaso já não está sofrendo? E esse sofrimento, talvez, já não seja o pior dos sofrimentos? Perguntas que os adultos se esquecem de fazer. Até suas reflexões estão condicionadas a um possível e inexistente futuro. O futuro poderá existir, sim. Mas ele ainda não chegou, e quando chegar, já não será mais futuro, será presente. Portanto, sempre estaremos nesse tempo, no tempo presente. Deveríamos aprender com o passado. Mas nem todos aprendem. No fim, acabam reproduzindo as mesmas faltas, os mesmos erros do passado. E o passado é como um filho que agoniza pedindo aos seus pais que o percebam como gente, como humano capaz, constituído de anseios, necessidades, e que precisa viver, aprender, ser, não amanhã ou no futuro que nunca chega, mas hoje, agora, no presente em que ainda está vivo...


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