segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Selva

Por Fabiane Tedesco
Essa não é uma edição de Natal comum. E como seria? Em tempos de morte e censura, o mínimo que podemos fazer é questionar e que as luzes do Natal não nos ofusque. Não se pode perder a linha, não se pode esquecer dos fatos: é um momento pesado em Santa Catarina.
É momento de um adeus que corta fundo, é momento de continuar lutando. É tempo de encontrar o inimigo, onde quer que ele esteja, descobrir suas intenções, jogá-las ao vento, espalhá-las em cada ouvido desatento.
Ah, nós jornalistas, com as barrigas cheias de ideologia: sempre ansiamos por uma boa história para contar, viver em tempos de ditadura, de censura, de grandes acontecimentos. Pois bem, aqui estamos. E agora? Agora, é hora de mostrar a que viemos.
Vimos que os anos de chumbo ficam mais atraentes nos livros de história, que quando se vive um bang bang, repleto de mistérios e dores, é bem pior. Tememos por nossas vidas, por nossos empregos, por nossas crianças que também caminham pelas mesmas ruas caladas pelo medo, desligadas para o inimigo passar impune e irreconhecível.
Tememos, mas somos fortes. Tememos, mas estamos juntos no medo, na dor, no silêncio que espera para se tornar voz, alta e clara, tomando de súbito esse velho e sentido oeste selvagem.

* Texto dedicado ao amigo e colega Herman G. Silvani que nos encantou e nos fez pensar ao longo de 290 intensas crônicas – que um dia, quem sabe, caberão em um livro.


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