sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Eu e os botões do meu uniforme

O relógio despertou no meio da noite. Virei pro lado e com uma pancada certeira silenciei o tirano. Maldita invenção! Quem foi o besta que criou uma maquineta dessas que só serve pra controlar o tempo das pessoas? Pro trabalho, é claro! Pra férias, pra uma cervejinha, nem a pau! Baita invento! Bom pro patrão, aquele vampiro! Suga meu sangue até que pode, e nem sequer agradece! Deveria pelo menos pagar uma cerveja de vez em quando. Mas nem isso. Acordei já era passado das nove e meia. O telefone tocava escandaloso lá na sala. Outra engenhoca inventada pra perturbação do sossego alheio. Mas essa pelo menos serve pra falar com a pessoa que está lá do outro lado. Droga! Perdi o horário. Também, porque que eu preciso ta há essa hora no trabalho? Fico lá esperando o tempo passar. Oito horas todo dia. Ninguém merece! Aliás, merece sim... O patrão! Esse pelo menos ganha dinheiro. Mas na verdade quem trabalha sou eu, repetindo a mesma porcaria todo o santo dia. Será que vou acabar nisso? Será que vou terminar minha vida assim? Sem ver a cor da grana grossa? Enquanto aquele bunda-mole fica só no escritório... Pernas cruzadas, cafezinho, computador, telefone, secretária gostosa... E eu aqui, me ferrando, preocupado com o horário. Maldito condicionamento! Maldita rotina! Mas lá vou eu. Preciso do meu ganha pão. Operário é isso! E saber que fui enganado um dia. Porque minha mãe, meu pai, minha professora e o padre não me jogaram a real? Porque não me falaram a verdade? Não poderiam ter mentido. Ferraram comigo! Estudei pra que? Pra isso? Se bem que nunca fui um aluno exemplar. Um filho exemplar. Um cristão exemplar. Acho que foi vingança deles. Dane-se também! Hoje ainda não sou exemplar. Nunca serei! Não sou um empregado exemplar, padrão, que faz tudo certinho como o patrão manda. Nunca ganhei e nem quero ganhar prêmio algum. Destaque... Que piada! O destaque do mês ganhou uma churrasqueira portátil, de lata. Grandes bosta! O destaque do ano passado então ganhou uma bicicleta paraguaia e uma garrafa de champanha de maçã. E se achando o braço direito do patrão. Parece até que foi convidado pra passar o final de ano na chácara do patrão. Enche os bolsos do patrão e ano após ano vai pra casa a pé. Não tem nem um carro. Nem um cavalo se quer. E teve que vender a bicicleta pra pagar a tevê nova que a mulher comprou. Otário! Bem, já é quase dez horas e o telefone ainda grita. Vou pro batente de uma vez antes que sobre pra mim.


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