Solidão Velada (ou Morte na Solidão)
Ouço lá fora o canto da chuva. Ela se foi...
O dia acordou cinza e eu sem cor
Perdi meu sorriso em plena segunda-feira
Aqueles dias no campo...
Como me dói a lembrança!
Meu olhar torpe mira o infinito em busca de alguma explicação
Mas não há o que explicar, tudo está tão claro
Ela se foi e eu a perdi - tão simples...
Amigos, parentes e até inimigos vieram
Alguns me observam com carinho
Outros com medo e desconfiança
Me parecem todos iguais, todos culpados
Todos como eu, impotentes e fracassados
Eu, na mira dos demais
Servindo como depósito dos rancores alheios
Olhares suspeitos cheios de vingança
Dor e desprezo, misto de sentimentos perdidos
Assolados pelo frio que nos condena
Blasfemam sem a menor precaução
Eu ouço e me movo, tento escapar do veneno
Mas ele me chega amargo e mortal
E eu morro...
Morro a cada passo dado
Morro sem mágoas nem ressentimentos
A cada segundo que passa
Um fragmento de vida que se desfaz
Desapareço...
Atravesso as paredes e me junto à solidão...
Volto e a vejo pálida,
Deitada na madeira e cercada de estranhos
Que em prantos lamentam a ocasião
Há um pano preto sobre o espelho
Algumas velas se apagam
A escuridão retoma seus espaços
O cheiro das flores mortas enche a sala...
Herman G. Silvani
"Je Vis Dessus le Contour Vaporeux d'une Forme Humaine", 1896 - obra de Odilon Redon
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NOSSA!
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